Na primeira parte de seu livro “Ensaios (que também
pode ser encontrado com o título “Frederic Bastiat), o economista clássico,
Frederic Bastiat, ao diferenciar um bom do mau economista, definiu o que se
poderia chamar de lição econômica de Bastiat:
“Entre um bom e um mau economista existe uma diferença: um se detém no efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever.”Mais:
“Daí se conclui que o mau economista, ao perseguir um pequeno benefício no presente, está gerando um grande mal no futura jâ o verdadeiro bom economista, ao perseguir um grande benefício no futuro, corre o risco de provocar um pequeno mal no presente.”
Portanto, entender os efeitos e para se propor
políticas públicas eficientes em relação ao problemas econômicos não basta
enxergar o que acontece de imediato ( o que não se vê), mas ir além e procurar
se deter ao que não pode ser visto de maneira clara. Henry Hazzlit, em
“Economia em uma única lição”, descreve a importância do economista pensar
assim:
“Ao considerarmos uma política, não devemos concentrar-nos somente em resultados a longo prazo para a comunidade como um todo. É o erro muitas vezes cometido pelos economistas clássicos. O resultado foi certa indiferença com o destino de grupos imediatamente feridos pela política ou pelos desenvolvimentos que provaram ser benéficos no cômputo geral e a longo prazo.”
Essa lição proposta por Bastiat e
seguida por Hazzlit pode parecer banal, afinal em todas as ciências deve-se
buscar ir além das aparências, mas o que pode ser simples, não é o que acontece
na realidade, em que, segundo esses autores, em que os economistas ficam
confortáveis apenas em ver o que acontece no curto prazo e preferem ignorar o
longo prazo. O economista John Maynard Keynes, aliás, já afirmava: “No longo
prazo, todos estaremos mortos”
A importância dessa lição, como refletir-se-á nos
exemplos, é de que políticas pensadas unicamente nos efeitos do que se vê
(curto prazo) acabam por prejudicar a economia por inteiro e, justamente,
podendo corromper o futuro. Os exemplos a seguir ajudam a deixar mais claro o
pensamento do economista francês.
A
Vidraça quebrada e a economia da destruição
O clássico exemplo de Bastiat para demonstrar seu
argumento é a chamada “Falácia da janela quebrada”. De maneira sintetizada, o
economista conta de história de um padeiro, cujo filho quebrou a vidraça de sua
padaria. Por ruim que seja, todos comemoram, pois assim com essa destruição,
haverá emprego para o vidraceiro, o que estimulará a economia, gerando renda e
empregos. Isso é o que se vê.
Porém, o que não se vê é que, provavelmente, o
padeiro gastaria o dinheiro que foi gasto com uma nova vidraça poderia para
comprar sapatos. Nesse sentido, a vidraça quebrada deixou de gerar emprego e
renda no setor de sapatos. Portanto, o que não se vê é que, ao invés de
enriquecer, a economia decresceu – ou se manteve constante, no mínimo – pois ao
invés de ter uma vidraça – como realmente havia antes da sua destruição – e um
sapato, agora a economia tem apenas uma vidraça. Como escreveu Bastiat:
“Não se vê que, se o nosso burguês gastou seis francos numa determinada coisa, não vai poder gastá-los noutra! Não se vê que, se ele não tivesse nenhuma vidraça para substituir, ele teria trocado, por exemplo, seus sapatos velhos ou posto um-livro a mais em sua biblioteca. Enfim, ele teria aplicado seus seis francos em alguma outra coisa que, agora, não poderá mais comprar.”
Ampliando o argumento, a chamada economia de
destruição, em que certas catástrofes ao destruir cidades, por mais tenebrosa
que possa ser, a sua reconstrução gerará estímulos econômicos não passa de uma
falácia: o capital que será gasto com a reconstrução poderia ser gasto com a
produção de novos bens que iriam aumentar a riqueza da sociedade.
Assim, se um terremoto destrói hospitais e escolas,
o dinheiro para reconstruí-las poderia ser gasto, por exemplo, para construir e
produzir pontes, estradas das quais a população pode estar necessitada. Assim,
a destruição, ao invés de enriquecer , posteriormente, a economia acaba por
empobrecê-la.
Impostos
e obras públicas
Outro ponto abordado por Bastiat é a questão dos
impostos. Ao cobrá-los para pagar seus funcionários, o Estado parece garantir
renda e riqueza, pois eles irão gastar em outros setores, ou seja, aumentando a
demanda agregada e gerando renda nesse novos setores estimulados por esses
funcionários públicos.
Porém, esse dinheiro que flui para o aparato estatal só
pode ser obtido à custa dos pagadores de impostos, que ficaram mais pobres ao
terem que pagar seus deveres ao governo.
Nesse caso, também, o gasto realizado pelos
funcionários públicos não agrega riqueza à economia, pois, caso os pagadores de
impostos não tivessem de pagá-los poderiam gastar esse mesmo dinheiro em bens
que mais lhes fosse proveitoso. Dessa maneira, o homem comum se torna mais
infeliz, pois não pode comprar os bens de que mais necessita e ou mais deseja.
Pode-se ampliar o argumento para a questão da
produção. Os impostos retiram dinheiro das empresas, o qual poderia ser gasto
para ampliar sua capacidade produtiva, gastar com mais pessoas e máquinas. Como
expõem Hazzlit:
“A companhia não expande as operações ou expande somente aquelas que podem ser atendidas com um mínimo de risco. As pessoas que reconhecem essa situação veem-se impedidas de iniciar novos empreendimentos. Assim, antigos empregadores não mais empregam ou não empregam tantos quantos talvez empregassem; e outros resolvem não mais ser empregadores. Maquinaria aperfeiçoada e fábricas mais bem equipadas passam a surgir muito mais lentamente, dada essa situação. O resultado, a longo prazo, afinal, é verem-se os consumidores impedidos de conseguir produtos melhores e mais baratos, e não haver melhoria nos salários.”
As obras públicas que
são feitas com o intuito de gerar empregos e, portanto, aumentar a riqueza e a
renda da comunidade também sofrem desse efeito do que não pode ser visto
facilmente. Ao retirar recursos – capital e mão de obra - do setor privado, o
Estado e as obras públicas impedem que os empresários invistam na produção de
bens que a população pode necessitar mais urgentemente. Novamente, Hazzlit vai
ao ponto:
“Nisso, os responsáveis pelo dinheiro público, outra vez, levam a melhor na discussão com todos aqueles que não sabem ver, além do alcance imediato de seus olhos. Podem ver a ponte. Mas, se tiverem aprendido a perceber as consequências indiretas da mesma maneira que as diretas, podem, mais uma vez, ver, com os olhos da imaginação, possibilidades que nunca chegarão a existir. Podem ver casas não construídas, automóveis, rádios, vestidos e paletós não fabricados, e talvez alimentos não cultivados nem vendidos.”
Assim, as obras
públicas e os impostos, seguinte essa lógica, não fazem mais do que tirar do
setor privado e produtivo para repassar a um setor improdutivo – como
argumentam alguns economistas liberais. Dessa maneira, obras públicas e gastos
com o funcionalismo, mesmo que geram renda e aumentem a demanda – é o que se vê
– apenas transferem recursos que poderiam ser gastos tanto por consumidores
quanto por empresas para consumir/produzir bens mais satisfatórios e urgentes.
Protecionismo
Outra possível
falácia é a do protecionismo. A intenção de impor tarifas aos produtos
importados, pretende-se estimular a indústria nacional. É o que se vê. Porém, o
que não se vê é que ao aumentar os preços dos bens importados, os consumidores
ficam com menos recursos, pois precisam gastar mais com os produtos nacionais,
os quais se beneficiam da proteção. Nesse sentido, o dinheiro extra gastado
poderia ser destino a algum outro produto de outra indústria nacional, mas que
não foi beneficiado da proteção oficial.
Dessa maneira, se o
consumidor deixa de ter dois produtos, a indústria que não se beneficiou da
política governamental sofrerá prejuízos, gerando menos renda e empregos. Por
outro lado, a única beneficiada é o setor protegido. No entanto, a economia não
ficou mais rica, no máximo ficou estagnada. É o que não se vê.
Crédito e inflação
Em um dos capítulos
de seu livro, Hazzlit argumenta que o crédtio desvia a produção, no sentido de
que o crédito público ao ser destinado a pessoas, para cujo risco é maior, a
produção é desviada dos mais eficientes para os menos. Quando um banco público,
por não precisar correr riscos, empresta recursos a um fazendeiro, por exemplo,
cuja produção é ineficiente, para que ele compre máquinas e ferramentas para
aumentar a produção, isso supostamente aumenta a produção e renda de toda a
comunidade. É o que se vê.
O que não se vê, é
que, como os recursos são escassos, estes serão alocados para esse fazendeiro
mais ineficiente, enquanto um outro mais eficiente, que não foi beneficiado com
o crédito estatal, ficará sem esses recursos para aumentar sua produção. Dessa
maneira, a produção que foi gerada será de qualidade inferior do que seria caso
o crédito fosse destinado ao outro fazendeiro. A economia não cresce e nem
gerou renda como poderia. É o que não se vê.
Outra questão ligada
ao dinheiro é a inflação. Argumentam os inflacionistas que ao aumentar a
quantidade de dinheiro na economia, tal política irá estimular o consumo e a
renda, o que gerará crescimento econômico. É o que se vê. Porém, isso beneficia
apenas uma parcela da população.
Como demonstrou outro
economista, Ludwig von Mises em “Seis Lições” (cap.4), a renda adicional será
benéfica para aqueles que primeiro recebem esse dinheiro, pois poderão comprar
produtos sem que os preços tenham aumentando ainda. Porém, com o passar do
tempo, o aumento da circulação da renda nova fará com que os preços aumentem.
Nesse sentido, os últimos que receberem aquela renda adicional não conseguiram
mais comprar os produtos de que necessitam, pois os preços estão elevados. Assim,
o aumento da oferta monetária não gerou benefícios a todos, mas a apenas uma
parcela da sociedade que se apropriou, inicialmente, do dinheiro recém-criado.
O que se vê e o que não se vê
Como exposto com os
exemplos, muitas das políticas econômicas são feitas com o intuito de estimular
a economia e melhor o bem-estar da população, porém seus efeitos são benéficos
apenas para uma determinada parcela da população (aquilo que pode ser visto),
enquanto a maior parcela sofre com inflação, ineficiência, perda de empregos e
et.( o que não pode ser visto)
Portanto, a lição de
Bastiat torna-se fundamental para qualquer economista que deseja –
independentemente de concordar com as ideias liberais expostas acima – entender
e postular propostas para que o crescimento econômico e o bem-estar da
população, e não de apenas uma parcela, estejam garantidos. É preciso ir além
do que se vê.
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