quinta-feira, 18 de abril de 2013

Mitos sobre o livre mercado


               Já se falou bastante sobre a benevolência do capitalismo e das mazelas do intervencionismo estatal. É preciso deixar o mercado livre das interferências governamentais. Esse é o mantra da ideologia liberal. Quanto menos o governo intervier, será melhor para os agentes e para a economia. Os mecanismos de mercado trazem a prosperidade.
                Mas e o que não se contou sobre o capitalismo? Em “23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo”, o economista Ha-Joon Chang desvenda alguns mitos sobre economia e sobre o livre mercado. Sem negar que o capitalismo é a melhor forma de produzir riqueza, Chang demonstra que é preciso amortecê lo, principalmente através da ação estatal.
                Um desses mitos é de que as empresas devam ser geridas voltadas para os interesses e o bem-estar dos seus donos (acionistas). Como Chang argumenta, a aliança profana entre os gestores e os acionistas, em que se recompensa o primeiro de acordo com a capacidade de gerar lucros para os segundos não traz o bem-estar geral, pois para isso são necessários cortes nos gastos e nos investimentos. Além de que esses lucros podem ser utilizados para compra de ações com o intuito de valorizá-las, diminuindo ainda mais o investimento. Nesse sentido, a perspectiva da empresa volta-se para o curto prazo e não para o longo, o que pode comprometer seu desempenho.
                Quanto à diferença de salários entre os trabalhadores dos países ricos e pobres, qual seria a causa desse fenômeno? Os defensores do capitalismo afirmam que é decorrência da maior produtividade. Mas não é bem assim, argumenta Chang. A produtividade dos trabalhadores dos países ricos não é tão superior (ou até menos) a de seus semelhantes em outros países. A causa dessa discrepância está no fechamento das fronteiras. Um motorista de ônibus sueco ganha mais do que um indiano, porque a imigração é restringida. Se as fronteiras fossem abertas, a imigração de trabalhadores pobres forçaria uma queda dos salários na Suécia, por exemplo. São as políticas governamentais que determinam essa questão dos altos salários.
                Mas o livre mercado tornou as nações mais ricas? Os defensores do livre mercado argumentam que sim. Já Chang diz que não. Os países mais desenvolvidos utilizaram-se de tarifas protecionistas, investimentos estatais para fomentar as suas indústrias contra a concorrência (protecionismo), criar novos mercados e desenvolver  o sistema de transporte (ações estatais). Os países que adotaram medidas intervencionistas conseguiram crescer muito mais do que os que adotaram medidas liberais, como os países africanos a partir dos anos 80.
                Outro mantra do mercado é o de que seus participantes são sempre racionais, portanto além de não ser necessária, a intervenção é prejudicial. O mundo e o mercado são complexo demais, argumenta Chang, o que limita a capacidade individual. Ao fazer escolhas, muitas vezes o indivíduo não sabe que caminho tomar, devido à enorme complexidade, ou seja, nem sempre é possível agir de maneira racional. Portanto, as regulamentações são necessárias para que a liberdade de escolha se reduza, reduzindo dessa forma a complexidade da escolha das ações. Assim, o indivíduo pode agir com mais conhecimento.
                Desse conceito de racionalidade, os defensores do mercado afirmam que somente os seus participantes, por vivenciá-lo, tomam decisões mais acertadas. Por terem mais e melhores informações, os indivíduos sabem onde estão os investimentos mais lucrativos. O Estado por estar fora do mercado não consegue saber o que é lucrativo. Porém, o governo pode, muitas vezes, tomar decisões corretas, enquanto o mercado pode errar. O exemplo da LG é interessante: o governo coreano proibiu o grupo LG de investir no setor têxtil, o mais lucrativo para ele, e o obrigou a investir em cabos elétricos, o que tornou-se a base para seus produtos tecnológicos, posteriormente. Nem sempre os investimentos mais lucrativos para os indivíduos ou grupos o é para a nação. Desse modo, em muitos casos, as ações estatais devem ser voltadas para escolher os vencedores.
                Outra iconoclastia de Chang é quanto ao estado de bem estar-social, odiado pelos defensores do capitalismo. É esse tipo de organização que pode distribuir melhor a renda para que as pessoas possam propiciar a seus filhos melhores oportunidades de ascender socialmente. Além do mais, ao subsidiar treinamentos e pagar seguros-desemprego, o Estado consegue dar uma segunda chance às pessoas. Dessa maneira, elas podem se arriscar mais nos empregos ou escolhê-los sem medo de ficar desempregado para sempre. O Estado forte permite que as pessoas possam mudar e/ou ascender socialmente.
                Longe de ser uma análise contra o capitalismo, Chang demonstra que o Estado é importante para que o próprio capitalismo se desenvolva e gere crescimento econômico para as pessoas. Deixar os mercados irrestritos só trará prejuízos à economia e aos indivíduos. O livre mercado não é tao verdadeiros quanto se pensa. 

Um comentário:

  1. "Ao fazer escolhas, muitas vezes o indivíduo não sabe que caminho tomar, devido à enorme complexidade, ou seja, nem sempre é possível agir de maneira racional.Portanto, as regulamentações são necessárias para que a liberdade de escolha se reduza, reduzindo dessa forma a complexidade da escolha das ações. Assim, o indivíduo pode agir com mais conhecimento. "

    As pessoas são estúpidas o suficiente pra escolher qual leite comprar, mas são super inteligentes para escolher qual político vai proibir elas de comprar um leite e permitir apenas que elas compre outro leite?

    Huahuahuahuahuahuahuahua, moleque, como você é burro!!

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