Já se falou bastante sobre a benevolência
do capitalismo e das mazelas do intervencionismo estatal. É preciso deixar o
mercado livre das interferências governamentais. Esse é o mantra da ideologia
liberal. Quanto menos o governo intervier, será melhor para os agentes e para a
economia. Os mecanismos de mercado trazem a prosperidade.
Mas
e o que não se contou sobre o capitalismo? Em “23 coisas que não nos contaram
sobre o capitalismo”, o economista Ha-Joon Chang desvenda alguns mitos sobre
economia e sobre o livre mercado. Sem negar que o capitalismo é a melhor forma
de produzir riqueza, Chang demonstra que é preciso amortecê lo, principalmente
através da ação estatal.
Um
desses mitos é de que as empresas devam ser geridas voltadas para os interesses
e o bem-estar dos seus donos (acionistas). Como Chang argumenta, a aliança
profana entre os gestores e os acionistas, em que se recompensa o primeiro de acordo
com a capacidade de gerar lucros para os segundos não traz o bem-estar geral,
pois para isso são necessários cortes nos gastos e nos investimentos. Além de
que esses lucros podem ser utilizados para compra de ações com o intuito de
valorizá-las, diminuindo ainda mais o investimento. Nesse sentido, a
perspectiva da empresa volta-se para o curto prazo e não para o longo, o que
pode comprometer seu desempenho.
Quanto
à diferença de salários entre os trabalhadores dos países ricos e pobres, qual
seria a causa desse fenômeno? Os defensores do capitalismo afirmam que é
decorrência da maior produtividade. Mas não é bem assim, argumenta Chang. A produtividade
dos trabalhadores dos países ricos não é tão superior (ou até menos) a de seus
semelhantes em outros países. A causa dessa discrepância está no fechamento das
fronteiras. Um motorista de ônibus sueco ganha mais do que um indiano, porque a
imigração é restringida. Se as fronteiras fossem abertas, a imigração de
trabalhadores pobres forçaria uma queda dos salários na Suécia, por exemplo.
São as políticas governamentais que determinam essa questão dos altos salários.
Mas
o livre mercado tornou as nações mais ricas? Os defensores do livre mercado
argumentam que sim. Já Chang diz que não. Os países mais desenvolvidos
utilizaram-se de tarifas protecionistas, investimentos estatais para fomentar
as suas indústrias contra a concorrência (protecionismo), criar novos mercados
e desenvolver o sistema de transporte
(ações estatais). Os países que adotaram medidas intervencionistas conseguiram
crescer muito mais do que os que adotaram medidas liberais, como os países
africanos a partir dos anos 80.
Outro
mantra do mercado é o de que seus participantes são sempre racionais, portanto
além de não ser necessária, a intervenção é prejudicial. O mundo e o mercado são
complexo demais, argumenta Chang, o que limita a capacidade individual. Ao
fazer escolhas, muitas vezes o indivíduo não sabe que caminho tomar, devido à
enorme complexidade, ou seja, nem sempre é possível agir de maneira racional.
Portanto, as regulamentações são necessárias para que a liberdade de escolha se
reduza, reduzindo dessa forma a complexidade da escolha das ações. Assim, o
indivíduo pode agir com mais conhecimento.
Desse
conceito de racionalidade, os defensores do mercado afirmam que somente os seus
participantes, por vivenciá-lo, tomam decisões mais acertadas. Por terem mais e melhores informações, os indivíduos sabem onde estão os investimentos
mais lucrativos. O Estado por estar fora do mercado não consegue saber o que é
lucrativo. Porém, o governo pode, muitas vezes, tomar decisões corretas,
enquanto o mercado pode errar. O exemplo da LG é interessante: o governo
coreano proibiu o grupo LG de investir no setor têxtil, o mais lucrativo para
ele, e o obrigou a investir em cabos elétricos, o que tornou-se a base para
seus produtos tecnológicos, posteriormente. Nem sempre os investimentos mais
lucrativos para os indivíduos ou grupos o é para a nação. Desse modo, em muitos
casos, as ações estatais devem ser voltadas para escolher os vencedores.
Outra iconoclastia de Chang é quanto ao estado de bem estar-social, odiado pelos
defensores do capitalismo. É esse tipo de organização que pode distribuir
melhor a renda para que as pessoas possam propiciar a seus filhos melhores
oportunidades de ascender socialmente. Além do mais, ao subsidiar treinamentos
e pagar seguros-desemprego, o Estado consegue dar uma segunda chance às
pessoas. Dessa maneira, elas podem se arriscar mais nos empregos ou escolhê-los
sem medo de ficar desempregado para sempre. O Estado forte permite que as
pessoas possam mudar e/ou ascender socialmente.
Longe
de ser uma análise contra o capitalismo, Chang demonstra que o Estado é
importante para que o próprio capitalismo se desenvolva e gere crescimento
econômico para as pessoas. Deixar os mercados irrestritos só trará prejuízos à
economia e aos indivíduos. O livre mercado não é tao verdadeiros quanto se pensa.
"Ao fazer escolhas, muitas vezes o indivíduo não sabe que caminho tomar, devido à enorme complexidade, ou seja, nem sempre é possível agir de maneira racional.Portanto, as regulamentações são necessárias para que a liberdade de escolha se reduza, reduzindo dessa forma a complexidade da escolha das ações. Assim, o indivíduo pode agir com mais conhecimento. "
ResponderExcluirAs pessoas são estúpidas o suficiente pra escolher qual leite comprar, mas são super inteligentes para escolher qual político vai proibir elas de comprar um leite e permitir apenas que elas compre outro leite?
Huahuahuahuahuahuahuahua, moleque, como você é burro!!