O capitalismo industrial teve vários elementos fundamentais
para sua formação. Em “Processo de industrialização”, o professor Carlos Alonso
Barbosa Oliveira partindo da análise teórica de Marx, na qual se buscou alguns
elementos gerais da formação do capitalismo, para depois encontrar e discutir
as especificidades de cada país, em que se possibilitou a formação da indústria
capitalismo.
O que
se pretendeu, como próprio autor afirma, não é a busca de um padrão para a
formação do capitalismo, mas, ao mesmo tempo, visualizar as especificidades de
cada país. Por que Portugal e Espanha, potências do mercantilismo, não
conseguiram tornar-se potências industriais, mesmo com a riqueza proporcionada
pela exploração colonial? Os entraves nesses países, como o forte clero,
impediram que o capitalismo chegasse a sua última fase, enquanto que nas
Inglaterra os obstáculos ao desenvolvimento do capitalismo foram sendo
eliminados, permitindo, assim, que a Revolução Industrial fosse possível.
A gênese do
capitalismo: a supremacia do capital comercial
Na fase anterior ao
capitalismo industrial, é o capital comercial que permite uma acumulação
primitiva do capital e das condições prévias para a grande indústria. O capital
comercial subordina o capital produtivo de maneira que o produtor é dependente
do comerciante, devido ao aumento do comércio e da necessidade de venda dos
produtos. É o comércio quem dita a produção, portanto.
Outro
elemento prévio é a divisão do trabalho. O comércio necessita de uma maior
especialização e divisão das funções, transformando unidades homogêneas, como
no caso da economia de subsistência, para unidades heterogêneas. Já é o
primeiro ensaios de divisão social do trabalho, tão necessária ao capitalismo.
O
capital comercial, devido à sua predominância permitiu uma grande acumulação de
capital, que, posteriormente, irá possibilitar o surgimento de uma nova forma
de produzir riqueza: a grande indústria capitalista.
De
outro lado, não foi só o surgimento do capital comercial que permitiu essa
divisão do trabalho, mas a crise do feudalismo, a qual trouxe a dissolução dos
laços servis e do afrouxamento das formas corporativas, dando origem a pequenos
produtores independentes. Como afirma professo Alonso: “Ora, é exatamente essa
economia de pequenos produtores independentes que vai permitir a dissociação
dos produtores de seus meios de produção”, a qual é necessária ao capitalismo,
principalmente na grande indústria, em que as máquinas são estranhas aos
trabalhadores.
O
aparecimento da manufatura irá dar mais um passo em direção à formação do
capitalismo. Nessa forma de produção, a cooperação e, portanto, uma maior
divisão do trabalho socialmente necessário, devido a maior divisão das funções
dentro dessa produção. A partir desse momento, começa surgir aqueles que
trabalham efetivamente e outros que vivem do trabalho alheio, os quais se
apropriam da mais-valia.
A maior
produtividade, decorrente de maiores jornadas de trabalho e dos incrementos na
produtividade, permite produzir mais em menos tempo. Porém, as longas jornadas
de trabalho e a baixa qualificação dos que trabalham na manufatura em relação
ao artesanato permitem uma redução no valor da força trabalho. Dessa forma,
aumento da produtividade combinado com baixo valor da força trabalho permitem
uma maior apropriação da mais-valia.
Porém,
a manufatura ainda tem alguns empecilhos que dificultam a grande acumulação do
capital. Pois, mesmo com a menor qualificação, os trabalhadores das manufaturas
ainda são especializados e podem lutar contra o capital, evitando que se reduza
de maneira acentuada o valor da força trabalho. Além de que a própria baixa
técnica emprega na produção impede uma maior produtividade. A incapacidade de
proletarizar esses produtores, de maneira a regular o próprio mercado, devido à
necessidade de algum tipo de qualificação impedem que o capital regule essas
condições, principalmente do mercado de trabalho.
A fase primitiva do capitalismo
irá se caracterizar pelo uso de elementos extra-econômicos para impor a força
do capital: imposição de jornadas longas de trabalho e de baixos salários
através da legislação. Para a venda dos produtos, foi-se necessários abrir
mercados, mesmo que à força, como no caso da colonização.
Dessa maneira, o capital
comercial ao abrir os mercados tantos internos quanto externos subordinou todas
essas unidades, tanto artesanato e manufatura, permitindo que essa produção
fosse vendida. A supremacia do capital comercial abriu espaço para alguns
elementos de natureza capitalista quanto permitiu a acumulação prévia de
capital.
A última fase: a
grande indústria
Todo
esse processo irá culminar na última fase da formação do capitalismo que é a
grande indústria, que irá revolucionar as formas de produção. Ao substituir a
ferramenta, a qual ainda o produtor tem relativo domínio sobre ela, pela
máquina-ferramenta, a qual é estranha ao produtor, a separação do trabalhador
dos meios-de-produção já existentes, mas em menor escala, atinge seu ápice. Se
antes o trabalhador era quem ditava o ritmo do trabalho, agora é a máquina quem
subordina o trabalhador ao ritmo dela.
Como
mostra brilhantemente o professor Barbosa de Oliveira, a subjetividade da
produção começa a dar lugar objetividade, no caso a máquina. A divisão do
trabalho humano começa a se subordinar diante da divisão das máquinas na
produção. Os limites da força física humana – um dos empecilhos da produção na
época pré-capitalistas – deixam de existir, devido à força supra-humana da
máquina. O homem deixa de ser a força motriz para a máquina, pois agora é o
carvão – e, posteriormente, as formas de combustível – que faz a máquina
funcionar.
Assim,
com o trabalhador se tornando mero vigilante da máquina, o trabalho se
desqualifica, em que o trabalhador especializado não se faz necessário. Como
demonstrado, esse era um dos empecilhos para a máxima extração de mais-valia na
manufatura, pois impedia que a força trabalho se reduzisse. Agora, com a
revolução na produção, advento da máquina como senhora da produção e a
desqualificação do trabalho, os salários tendem a se reduzir. Os elementos
extra-econômicos, como a legislação, não se fazia mais necessária para
controlar o trabalhador: o próprio movimento da produção o fazia, em que
prevaleciam o aumento da produtividade – devido às máquinas – e o baixo valor
da força trabalho.
Mas
ainda se fazia necessário quem produzisse as máquinas, pois essa função não
poderia ser feita pela manufatura, devido ao seu baixo grau técnico. Surgiu,
dessa maneira, o Departamento I, ou seja, a indústria de bens de capital, que
vendiam as máquinas necessárias à produção de bens de consumo. A indústria
capitalista, agora, poderia reproduzir a si mesmo, sem a necessidade de outras
formas de produção, como a manufatura. O próprio capital comercial se subordina
ao capital produtivo, invertendo a lógica anterior.
Burguesia e os
Estados nacionais
No contexto histórico foi a
passagem da crise do feudalismo para o surgimento dos Estados nacionais
absolutistas que permitiu a acumulação prévia do capitalismo, através do
capital comercial. A simbiose entre os governos absolutistas e os interesses
burgueses fez com que o comércio pudesse se desenvolver. A unificação do
território permitiu um vasto mercado nacional para a produção e comércio, e o
aparato militar e político permitiam uma tributação simples e a expansão dos
interesses burgueses ao redor do mundo. Os ganhos da burguesia podiam financiar
todo o aparato absolutista do Estado nacional.
Nesse sentido é que pode se
compreender a colonização: uma maneira de valorizar o capital comércio – a
fórmula de comprar barato e vender caro – só pôde ser feita através de
mecanismos extra-econômicos, os quais eram garantidos pelo Estado, como o
comércio monopolista entre a metrópole e colônia, que ao mesmo tempo em que
garantia preços de compra baixos para a burguesia metropolitana como garantia
um mercado para escoar a produção da metrópole.
As cidades italianas e alemãs,
por justamente, após a crise do feudalismo, não terem unificado Estados
nacionais forte, mas os interesses particularistas dos municípios predominaram
começaram a perder força no comércio internacional, justamente porque o raio de
ação do comércio municipal não poderia concorrer com as novas formas de
comércio, os quais eram impulsionados por Estados nacionais poderosos.
Outro ponto relevante tratado
pelo autor é o declínio de Portugal e Espanha, potências comerciais. A
burguesia ibérica fora relegada à posição secundária em relação à nobreza e o
clero. Assim, a expansão ultramarina não teve como condutora a burguesia
mercantil, mas a nobreza e o clero. De outro lado, o artesanato e produção
camponesa continuavam forte, o que dificultava o avanço da produção, a qual foi
sendo deixado para o exterior. Portanto, era
a própria nobreza e o clero impediam que o comércio e a produção se
desenvolvessem.
As condições inglesas
A crise do feudalismo
enfraqueceu de maneira decisiva a nobreza e o clero, este último,
principalmente, devido ao rompimento com Roma e a criação de uma religião
estatal, conferindo mais poderes ao poder central. A venda de terras tanto da
nobreza e do clero permitiu que algumas camadas pudessem se beneficiar como a gentry, uma “nobreza aburguesada”.
A questão
das terras foi fundamental para dar condições ao nascimento do capitalismo
industrial, porque o alto grau de mercantilização das terras, em que ela podia
ser, agora, comercializada, em contraste com a sociedade feudal, e a
implementação de cercamentos, abolindo assim as decisões comunais, permitiram
que a terra se tornasse propriedade privada nas mãos de grandes proprietários.
Assim, a natureza dupla dessa transformação na terra permitiu a Revolução
Agrícola, o que aumentou a produção agrícola, possibilitando o abastecimento
dos centros urbanos, e por outro lado, os camponeses livres expulsos da terra
forneceram mão-de-obra para a manufatura inglesa.
As
corporações sofreram um duplo ataque, em que os comerciantes oprimidos por
monopólios comerciais decidiram investir na produção artesanal rural, o que
permitiu uma maior produção, pois não havia os empecilhos, reinantes no sistema
de corporações. Por outro lado, a invasão de camponeses expulsos do campo fez com que certos mestres
de ofícios das corporações desobedecem as regras desses estabelecimentos e
pagassem salários a esses camponeses expulsos.
Essa
transformação, cercamentos e a perda dos monopólios das corporações, foram
passos decisivos para a formação do capitalismo, pois se eliminava, aos poucos,
obstáculos que dificultavam o avanço do progresso técnico e econômico. A
Revolução de 1640 devastou o que ainda restava do feudalismo: a nobreza perdeu
ainda mais, principalmente, com o maior poder dado ao Parlamento, e o clero foi
perdendo terreno, devido ao surgimento da religião estatal, o que tirava poder
de Roma e concedia ao rei.
Decisivo
foi a perda dos monopólios comerciais, os quais foram implementados pelo rei. Esses
monopólios foram quebrados, portanto, o capital mercantil foi “disciplinado”, o
que permitiu que a produção se desenvolver abrindo inclusive para maior
concorrência.
“O grande capital comercial continuou a
subordinar a esfera de produção, mas desde então sua ação foi
disciplinada, a grande burguesia
mercantil não mais continuou a gozar de privilégios e monopólios que
prejudicavam a produção. Os cercamentos, agora dirigidos pelo próprio
Parlamento, arrasaram a pequena produção parcelar e favoreceram a gentry e o
arrendatários capitalistas. O abandono das regulamentações corporativas
beneficiou os capitalistas e apressou a dissolução do artesanato.”
Nesse sentido, tanto as
transformação ocorridas no seio da sociedade inglesa quanto na revolução foram
fundamentais para que os empecilhos que dificultavam formas superiores de
produção, como a manufatura, pudessem se desenvolver, assim como a
mercantilização da terra e seus cercamentos permitiram tanto aumentar a
produtividade agrícola quanto fornecer alimentos e mão-de-obra para as cidades.
A
Revolução de 1640 foi decisiva, porque foi a primeira revolução burguesa, em
que o Estado estaria subordinado aos interesses burgueses. Se antes, a aliança
do rei com a burguesia era com o intuito de obter mais recursos para o Estado.
Agora, este agia para agradar aos interesses burgueses.
Uma
economia nacional sólida permitia que a Inglaterra pudesse se tornar soberana
no comércio internacional. O controle das rotas mercantis e suas colônias de
povoamento permitiram a ela comandar o comércio mundial. A Inglaterra, agora,
se inseria na nova divisão do trabalho como grande produtora de manufaturas, ou
seja, esse enorme mercado mundial para os produtos ingleses permitiram que a
manufatura se tornasse um elemento importante dentro da economia inglesa.
O capitalismo
originário
Compreendidas as condições
sociais e históricas na Inglaterra, o autor analisa a Revolução Industrial, ou
seja, a formação do chamado capitalismo originário, que pôde ocorrer na
Inglaterra. Como exposto, a questão teórica da formação do capitalismo mostra
como a manufatura, ainda que superior a outras formas produtivas, tem certos
limites à incorporação técnica. A expansão dos mercados nacional e exterior
limitava a produção manufatureira, devido às baixas técnicas, e limitava o comércio,
pois o capital comercial não poderia se valorizar ao máximo.
As
inovações técnicas, portanto, passaram a ser lucrativas. Aliado com o
aparecimento de alguns trabalhadores especializados, devido à manufatura, o
sistema industrial pôde se desenvolver. Os homens práticos, estes trabalhadores
que tinham algum conhecimento especializado sobre máquinas, tornavam possível o
desenvolvimento e, posteriormente, a disseminação da forma produtiva inglesa. Dessa
forma, por ser um conhecimento prática, não havia necessidades de grandes
conhecimentos científicos.
Com a
acumulação prévia de capital feita por comerciantes, estes ajudaram a financiar
a nascente indústria, seja fornecendo capital aos novos empreendedores quanto
eles próprios abriram suas fábricas. O capital vindo do comércio de escravos,
também ajudou a alimentar a nascente Revolução Industrial.
A
Revolução Industrial se deu, de maneira primária, no setor têxtil, devido à
baixa necessidade de capital ou baixa necessidade de financiamento. As novas
indústrias, por exemplo, tinham claro caráter familiar. Assim, o capitalismo
originário pode se caracterizar, devido à baixa necessidade de capital, como
concorrencial, em que não havia sérias barreiras a quem desejasse entrar no
ramo.
O setor
têxtil permitiu o surgimento de um Departamento I, a qual fornecia máquinas e
equipamentos, além de expandir outros setores, como da construção civil e de
infraestrutura, necessárias para que a Revolução pudesse ser completa.
Assim,
a lucratividade da implementação de novas técnicas na esfera produtiva, aliada
à condições políticas e sociais – como a ausência das regulamentações
corporativistas e a especialização dos homens práticos – permitiram que
surgisse o sistema fabril, ou a grande indústria, que como já exposto, pôde
revolucionar a maneira de produzir. Finalmente, a Inglaterra, depois de
eliminar os entraves sociais e políticos da era feudal, pôde se tornar a
primeira potência capitalista e industrial do mundo.
Capitalismo
concorrencial e a articulação inglesa
O capitalismo concorrencial
como o próprio nome diz é a fase, na qual as baixas necessidades de capital, a
técnica simples permitiram uma maior concorrência no âmbito industrial e
comercial. Portanto, a concorrência ditava o movimento da economia nacional
inglesa: as relações entre o capital e a força de trabalho, e a relação entre
as diversas unidades produtivas eram dominadas pela competição.
Mas a
livre concorrência não estava presa somente ao cenário interno inglês, mas por
deter hegemonia comercial, e agora, mais do que nunca, industrial, a Inglaterra
podia ditar os movimentos econômicos internacionais a favor de um maior livre
cambismo. As práticas mercantilistas, protecionistas ou laços coloniais foram
sendo desfeitos, devido ao poderio inglês, quanto pelos benefícios por parte
dos outros países com o comércio inglês.
Para as
nações mais avançadas, as estreitas relações com a Inglaterra permitiam
importações de maquinaria e força de trabalho – os homens práticos – como
financiamentos para desenvolver suas indústrias. Esse é o caso, como ver-se-á,
das industrializações atrasadas. Para os países periféricos, como os da América
Latiana, elas podiam se inserir na divisão do trabalho como exportadoras de
matérias-primas e importadoras de produtos industriais a baixo preços.
Ou
seja, a Inglaterra conseguiu impor uma ordem econômica, em que se prevaleceu o
livre cambismo tanto no plano nacional quanto internacional. É nessa etapa,
portanto, que são desenvolvidas muitas indústrias dos países avançados, como
Alemanha, França e Estados Unidos, graças à importação de mão-de-obra inglesa,
de máquinas e de capital. Sem esses movimentos de livre circulação de capital e
pessoas, talvez, as industrializações atrasadas não teriam ocorrido da forma
como ocorreram. Para tanto, além de entender esse movimento geral, é preciso
compreender as especificidades de cada país.
As condições nos
Estados Unidos, Alemanha e França
A existência de um passado
feudal seria uma característica presente em todos os países industrializados de
maneira atrasado, não fossem os Estados Unidos. Porém, mesmo a exceção confirma
essa regra, pois a colonização do nordeste e norte americano se baseou em
características sociais e econômicas muito parecidas com da Inglaterra:
pequenas propriedades, manufaturas e produção artesanal. A ausência de
elementos feudais concretiza tais elementos. O comércio triangular com a África e a Antilhas, em que o nordeste
americano vendia rum e bebidas à África em troca de escravos a serem vendidos
nas Antilhas, permitiu tanto o desenvolvimento das manufaturas ligadas às
bebidas e barcos, quanto permitiu a acumulação de capital comercial (venda de
escravos).
Na
França, a Revolução Francesa foi eliminando os resquícios feudais e
aristocráticos e concedendo maiores poderes à burguesia. Na Alemanha, as
condições eram mais adversas, devido à falta de unidade política e econômica,
pois o que existia ali eram pequenos Estados autônomos. Mas, mesmo com derrotas
políticos, esses governos iam aos poucos eliminando as travas que impediam a
formação do capitalismo plenamente constituído. Sob a liderança da Prússia,
institui-se uma União Aduaneira, em que as tarifas entre esses estados alemães
foram eliminadas. Como afirma o professor Alonso, a unificação econômica antecedeu
a união política, a qual viria se cristalizar apenas em 1870.
Capitalismo atrasado
As industrializações
atrasadas, ou a formação do capitalismo atrasado, se diferenciou do originário por alguns elementos: 1) a revolução industrial se deu no ciclo ferroviário e
2) como consequência, maior necessidade de financiamento e ação estatal.
Ao
deter o monopólio do comércio e da produção de têxtil, os demais países:
Alemanha, França e Estados Unidos não podiam competir com os baixos preços e a
qualidade, ainda que inferior, do tecido inglês. Mas não só a concorrência
inglesa, o reduzido mercado nacional e as dificuldades de transporte e
infraestrutura dificultavam que a indústria se tornasse hegemônica perante as
outras formas primitivas de produção.
Portanto,
não foi o setor têxtil que impulsionou a indústria nesses países atrasados, mas
foi o ciclo ferroviário que o fez. Assim, ao contrário da Inglaterra, em que
foi o setor têxtil que impulsionou o Departamento II e financiou o ciclo
ferroviário, nas industrializações atrasadas ocorreu o contrário. O ciclo
ferroviário, ao integrar o mercado nacional, permitiu que a produção dos bens
de consumo se desenvolvesse.
Nesse
sentido, o ciclo ferroviárias nos países atrasados só foi possível, devido à
reduzia técnica necessária para se construir as ferrovias, em que esses
problemas de ordem técnica poderiam ser resolvidos pelos homens práticos, os
quais saiam ou das fileiras inglesas ou das próprias manufaturas nacionais.
Diferentemente
da industrialização originária, a atrasada necessitava de maiores recursos para
se financiar. Nesse sentido, a participação do Estado para financiar ou para
criar condições para que surgissem capitais individuais nesses setores foi
fundamental. A maior participação dos bancos, principalmente com o advento dos
bancos de investimentos, com financiamentos a longo prazo – diferentemente da
Inglaterra, em que faziam empréstimos a curto prazo. Seja com o desenvolvimento
bancário nacional ou com a importação de capital inglês, a questão é que a nova
industrialização necessitava de maiores recursos. Ainda assim, isso ainda não
representava concentrações de capital, ou seja, ainda era possível a reprodução
de capitais individuais, em pleno estado de concorrência.
As
industrializações atrasadas, mesmo mudando o eixo setorial de industrialização
ainda assim reproduzia o padrão produtivo inglês, em as reduzidas técnicas
podiam ser incorporadas por homens práticas e, mesmo com o aumento dos
financiamentos, era possível a formação de capitais individuais que concorriam
entre si. Antes monopolista internacional, a Inglaterra começa a perder
importância no cenário internacional para esses novos países atrasados, mas,
mais especificamente, para Alemanha e Estados Unidos.
A segunda onda e o
advento do capitalismo monopolista
Após a Grande Depressão dos
anos 1870, o capitalismo concorrencial vai se transformar no capitalismo
monopolista, em que prevalecem as grandes empresas, as quais produzem em larga
escala, e a centralização do capital. Se a industrialização atrasada já exigia
maiores condições de financiamento, o capitalismo monopolista vai exigir
vultuosas quantias de capital.
A
segunda onda de industrializações atrasadas dar-se-á na Rússia e no Japão já
sob condições monopolistas. A eliminação dos elementos feudais, diferentemente
do ocorreu na Europa, não fortalecerá a burguesia nacional, relegando-a para
segundo plano. Nesses dois países, a industrialização assumirá um caráter de
defesa nacional, em que o Estado vai agir de maneira a financiar e a criar
condições para que se desenvolvam o setor militar da indústria ou mesmo as
ferrovias assumirão um caráter subordinado ao poderio militar. Se na primeira
onda dos países atrasados, a burguesia, em que em alguns pontos é a burguesia comercial
que financiam o surgimento dos bancos que irão emprestar para suas indústrias e
o Estado é agente que atua em conjunto com as burguesias, ou seja, a burguesia
ainda é predominante perante o Estado, na segunda onda será o Estado o grande agente que permitirá a industrialização.
Uma
ressalva importante é a de que, devido a estreita ligação entre os bancos e a
produção, a Alemanha e o Estados Unidos puderam desenvolver o capital
monopolistas e, portanto, o aumento das escalas produtivas, principalmente
devido à incorporação da ciência, ou seja, agora a tecnologia não poderia ser
incorporada por homens práticos. O Japão e Rússia, ao se industrializarem
tiveram de adotar o padrão científico da segunda revolução industrial.
Conclusão
O livro do professor Carlos
Alonso Barbosa de Oliveira é de inteira importância para entender a gênese do
sistema capitalista e suas transformações ao decorrer do tempo: do capitalismo
concorrencial – em que foram possíveis as industrializações originária e
primeira onda da atrasada – para o capitalismo monopolista – segunda onda de
industrialização atrasadas e, posteriormente, o capitalismo tardio.
Entende-se,
pela leitura, como a dissolução do feudalismo e de seus laços permitiu o
desenvolvimento do capitalismo. Mais importante ainda: compreender-se por que o
capitalismo plenamente constituído foi possível em alguns países e em outros
não, ou seja, compreender-se as especificidades, em que se projetam os
obstáculos e empecilhos que impediram ou que com a sua remoção permitiram o
desenvolvimento do capitalismo.
Aliás,
mais, compreende-se a própria estrutura do poder internacional vigente até
hoje, até que certo ponto, por que os países que se industrializaram nesse
período não são grandes potências hoje e os países que só vieram a se
industrializar no capitalismo tardio não são periféricos? A etapa concorrencial
permitia maiores facilidades para industrializar, enquanto o capitalismo em sua
fase monopolista dificultava e ainda dificulta a industrialização. Seria esse
um dos motivos das desigualdades entre os países? Não temos repostas, pois o
próprio autor não fez tais questionamentos, mas, com certeza, esse tema é um
bom ponto para se discutir..
Nenhum comentário:
Postar um comentário