terça-feira, 3 de setembro de 2013

A hegemonia lulista e o precariado

O período lulista foi caracterizado por uma melhora na distribuição renda, principalmente a partir de programas de transferência de renda, como o bolsa-família. Porém, em trabalhos recentes, o sociólogo Ruy Braga demonstra como a hegemonia lulista ajudou a solapar as bases sindicais dos países e como as políticas econômicas ajudaram a criar consentimento no precariado brasileiro.

Em “A política do precariado”, esse sociólogo demonstra como o capitalismo periférico, através do sistema fordista, apesar de trazer certas melhoras para esses trabalhadores não e semi-qualificados melhoras materiais, até devido à mudança do campo para a cidade, não trouxe melhorias de vida consideráveis. A regulação populista dos sindicatos ainda assim não conseguia conter certa insatisfação social.

Nos anos 70, a deterioração das condições do trabalho e os baixos salários, a inquietação social aumentou. Os sindicatos perceberam que era o momento de agir de maneira combativa contra o que Ruy Braga chama de aliança empresarial-militar.  Não à toa, os sindicatos, tanto sua alta esfera com suas bases, agiram de maneira a confrontar a situação dos trabalhadores e a situação política no Brasil.

Porém, com a derrota no início dos anos 80, o sindicalismo dos metalúrgicos percebeu que essa atitude combativa poderia minar todo seu poder burocrático – como escreveu o sociólogo – e no período da hegemonia lulista, os sindicalistas se fundiram ao Estado para gerir fundos de pensão. Assim, os sindicalistas, antes combates da aliança empresarial-militar, agora, através do dinheiro desses fundos, ajudam a fazer grandes fusões e a permitir o investimento capitalista.

Como Ruy Braga demonstra hoje como precariado brasileiro está fortemente ligado ao setor de telemaketing, em que prevalecem condições de baixa remuneração (1,5 salários mínimos), alta rotatividade e algumas condições precárias de trabalho. Por outro lado, o sociólogo mostra certo apoio diante das políticas governamentais e da própria adaptação a esse tipo de trabalho.

Ou seja, a hegemonia lulista transformou a política sindical no avesso: ao cooptar sindicalistas para o Estado e através das políticas econômicas, a inquietação social se reduziu e, em contrapartida, o consentimento do governo aumentou. A postura combativa dos sindicatos foi substituída pela aceitação.

Mesmo assim, nos últimos anos as greves aumentaram – como nas obras do PAC, por exemplo – mostrando que esse consentimento não pode ser permanente, pois apesar da satisfação com certo progresso material, as condições de trabalho continuam precárias, o que tem gerado insatisfação nesses trabalhadores, inclusive nos teleoperadores, os quais parecem estar construindo uma nova consciência de classe, segundo Ruy Braga. Como este afirmou em entrevista: “Meu argumento é de que o precariado está inquieto, isto é, percebe que o atual modelo trouxe certo progresso, mas conclui que este progresso é transitório.”
           
Se o lulismo conseguiu amenizar a inquietação social, esta continua presente no precariado brasileiro. Por mais que a política econômica e a cooptação dos sindicatos tenha gerado o consentimento diante das condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo e pelo modelo pós-fordista financeira, os trabalhadores estão começando a se inquietar. A dialética da hegemonia lulista não vai durar para sempre. A história ensinou que quando os trabalhadores foram fortes, mudanças importantes aconteceram no seio da sociedade brasileira.



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