O período lulista foi caracterizado por
uma melhora na distribuição renda, principalmente a partir de programas de
transferência de renda, como o bolsa-família. Porém, em trabalhos recentes, o
sociólogo Ruy Braga demonstra como a hegemonia lulista ajudou a solapar as
bases sindicais dos países e como as políticas econômicas ajudaram a criar
consentimento no precariado brasileiro.
Em “A política do precariado”, esse sociólogo
demonstra como o capitalismo periférico, através do sistema fordista, apesar de
trazer certas melhoras para esses trabalhadores não e semi-qualificados
melhoras materiais, até devido à mudança do campo para a cidade, não trouxe
melhorias de vida consideráveis. A regulação populista dos sindicatos ainda
assim não conseguia conter certa insatisfação social.
Nos anos 70, a deterioração das condições do
trabalho e os baixos salários, a inquietação social aumentou. Os sindicatos
perceberam que era o momento de agir de maneira combativa contra o que Ruy
Braga chama de aliança empresarial-militar. Não à toa, os sindicatos, tanto sua alta
esfera com suas bases, agiram de maneira a confrontar a situação dos
trabalhadores e a situação política no Brasil.
Porém, com a derrota no início dos anos 80, o
sindicalismo dos metalúrgicos percebeu que essa atitude combativa poderia minar
todo seu poder burocrático – como escreveu o sociólogo – e no período da
hegemonia lulista, os sindicalistas se fundiram ao Estado para gerir fundos de
pensão. Assim, os sindicalistas, antes combates da aliança empresarial-militar,
agora, através do dinheiro desses fundos, ajudam a fazer grandes fusões e a
permitir o investimento capitalista.
Como Ruy Braga demonstra hoje como precariado
brasileiro está fortemente ligado ao setor de telemaketing, em que prevalecem
condições de baixa remuneração (1,5 salários mínimos), alta rotatividade e
algumas condições precárias de trabalho. Por outro lado, o sociólogo mostra certo
apoio diante das políticas governamentais e da própria adaptação a esse tipo de
trabalho.
Ou seja, a hegemonia lulista transformou a política
sindical no avesso: ao cooptar sindicalistas para o Estado e através das
políticas econômicas, a inquietação social se reduziu e, em contrapartida, o
consentimento do governo aumentou. A postura combativa dos sindicatos foi
substituída pela aceitação.
Mesmo assim, nos últimos anos as
greves aumentaram – como nas obras do PAC, por exemplo – mostrando que esse
consentimento não pode ser permanente, pois apesar da satisfação com certo
progresso material, as condições de trabalho continuam precárias, o que tem
gerado insatisfação nesses trabalhadores, inclusive nos teleoperadores, os
quais parecem estar construindo uma nova consciência de classe, segundo Ruy
Braga. Como este afirmou em entrevista: “Meu argumento é de que o
precariado está inquieto, isto é, percebe que o atual modelo trouxe certo
progresso, mas conclui que este progresso é transitório.”
Se o lulismo conseguiu amenizar
a inquietação social, esta continua presente no precariado brasileiro. Por mais
que a política econômica e a cooptação dos sindicatos tenha gerado o
consentimento diante das condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo e
pelo modelo pós-fordista financeira, os trabalhadores estão começando a se
inquietar. A dialética da hegemonia lulista não vai durar para sempre. A
história ensinou que quando os trabalhadores foram fortes, mudanças importantes
aconteceram no seio da sociedade brasileira.
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