Dois preços-chaves, os quais têm suma importância para a indústria sofreram impactos que tiveram como consequência a fragilização da indústria nacional: o câmbio e o juro básico. Este primeiro vem sofrendo apreciações depois do Plano Real, mas com o surto das commodities dos últimos anos, e o segundo, em que os juros no Brasil, por mais que as recentes quedas fossem importantes ainda estão longe de um patamar “civilizado”, como dizem alguns economistas.
A liberalização econômica dos anos
90 expôs uma indústria nacional acomodada, devido à falta de concorrência de
décadas de extremas proteção. A abertura comercial fez com que empresas, antes
soberanas no mercado nacional perdessem para a concorrência. O exemplo clássico
é o setor de brinquedos, em que os nacionais foram perdendo espaço para os
chineses. Assim, o fator China e outros países asiáticos, cujas políticas estão
direcionadas à exportação de bens
manufaturados a baixos preços (devido ao baixo custo da mão-de-obra) gera, de
certa forma, uma concorrência desleal. Afinal, que indústria, principalmente
nos países periféricos, pode concorrer com a China hoje?
Mas o principal efeito da
liberalização foi o seu efeito financeiro, em que se abriu para a entrada de
capitais externos. Nesse sentido, com o intuito de atrair tais capitais,
praticou-se (e ainda se pratica) a política de juros altos para beneficiar
esses rentistas. A taxa de juros atua no duplo sentido de reduzir a inflação e
como incentivo à atração de capitais estrangeiros. Não só os juros altos impedem o investimento,
principalmente na indústria de transformação, a qual requer alto volume de
formação bruta de capital fixo (FBKF), impede que o governo possa fazer
investimentos com o intuito de melhorar a infraestrutura do país.
Por outro lado, segundo alguns
economistas renomados, como Bresser-Pereira e Luiz Gonzaga Belluzzo, o motivo
principal do crepúsculo da indústria nacional seria o câmbio apreciado, o que
dificulta não só uma política de
exportação desses bens manufaturados nacionais como tornam mais baratos (em
reais) os produtos importados, principalmente os chineses, como já exposto
acima.
A valorização cambial não estaria somente relacionada à
liberalização financeira, mas, também, com a doença holandesa, em que a
exportação de commodities fez com que entrassem vultosas somas de dólares na
economia nacional, o que apreciou o câmbio nacional. Nesse processo, a doença
holandesa transfere a mão-de-obra e recursos para setores que geram baixo valor
agregado em detrimento dos setores que geram alto valor agregado, como a
indústria de transformação. Quando não acompanhada de medidas de neutralização
dessa entrada de dólares na economia, as políticas de vantagens comparativas
tendem a fragilizar a indústria nacional, como vem ocorrendo.
Ou seja, todas as políticas econômicas de liberalização da economia, das vantagens comparativas e de juros altos levaram à indústria brasileira a uma situação dramática. Luiz Gonzaga Belluzzo e Júlio Sérgio Gomes, em um artigo denominado “A longa marcha para a insensatez”, demonstram como as políticas dos anos 90 estão produzindo esses efeitos nefastos para a indústria nacional.
“Na vida real, a abertura comercial com câmbio valorizado e juros altos
suscitou, porém, o desaparecimento de elos das cadeias produtivas da indústria
de transformação, com perda de valor agregado gerado no País, decorrente da
elevação das importações, sem ganhos nas exportações, em cada uma das cadeias
de produção.”
A retomada da força industrial brasileira, em seu atual estágio dramático, requer certas políticas não muito agradáveis, as quais podem gerar certos conflitos. Seria necessária que taxas de juros fossem adequadas a ponto de tornar o investimento social mais interessante. Por outro lado, o Banco Central deveria atuar no mercado cambial a ponto de administrar o câmbio de maneira a evitar os impactos dessa concorrência desleal, a qual permitiria a indústria nacional voltar a ter forte peso na geração de riqueza. Mas, isso requer uma escolha de Sofia: ou a indústria nacional volta a ter importância ou a economia brasileira terá de suportar algum grau de inflação.
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