quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A economia como instrumento

Resenha de "Imaginação Econômica" de Sylvia Nasar. Editora: Companhia Das Letras 


O professor Ludwig von Mises escreveu que o capitalismo salvou muitas pessoas da fome e trouxe melhorias quanto a bem-estar. Discordando ou não, a verdade é que hoje o padrão de vida é muito melhor do que se comparada duzentos anos atrás quando se iniciou a Revolução Industrial. Em “Imaginação Econômica”, Sylvia Nasar procura mostrar como os economistas pós-Indústria contribuíram ao propor idéias e debates para aliviar a miséria e os problemas de cunho econômico de “nove décimos”da população, número este que diziam estar condenado à pobreza.
            O conformismo e a naturalidade com relação a tais problemas, como, por exemplo a ideia de Malthus de que devido ao crescimento populacional e o número fixo de alimentos o mundo estava destino à pobreza, foram sendo abandonados para darem lugar a uma nova visão: a de que o homem é dono de seu destino e que não há nada externamente, que o impeça de melhorar seu padrão de vida.
            “Tendo superado terríveis obstáculos, eles também viam o homem como fruto fruto de suas circunstâncias. Também perceberam que as condições materiais de vida para ‘nova partes em dez de toda a raça humana’já não eram imutáveis, predeterminadas pelo ‘passado cego e brutal’, e totalmente fora do controle humano e da influência humana.”
            A economia, como Alfred Marshall definia essa ciência, era um instrumento destinado a pensar soluções para minimizar a pobreza e criar melhores padrões de vida. Tanto que este mesmo autor acreditava que o aumento da produtividade, causada pela força das empresas, criariam melhores produtos e melhor salários, fazendo com que os trabalhadores se beneficiassem de um aumento da produção.
            O economista Joseph Shumpeter seguia a mesma lógica de Marshall, porém com alguns incrementos. Para ele, era a “destruição criativa”, ou seja, a inovação na produção e nos produtos eram o que geravam o crescimento econômico. Esse argumento nada mais é do que uma afirmação de os homens fazem seu próprio destino, independentemente de força externas, porque se é a inovação, que gera o crescimento econômica, então a abundância de recursos naturais não faz com que um país seja rico ou não, mas o que ele pode desenvolver com estes.
            E de fato, as condições de vida  após a Revolução Industrial aumentou a produção para níveis antes nunca vistos. Os padrões de vida melhoraram. Porém, muitos economistas como Karl Marx e Engels, idealizadores do comunismo, mas, principalmente, críticos do capitalismo não acreditavam nesse afirmação e propuseram idéias novas, como o fim do capitalismo. Já Beatrice e seu marido, Sydney Webb não defendiam o fim do sistema, mas argumentavam que o Estado deveria prover o bem-estar da população, inclusive do trabalhador. Um exemplo de ideia defendida por eles era o do salário mínimo nacional. Com um trabalhador mais bem pago, ele será mais bem alimentado, terá mais saúde e força, o que aumentará sua produtividade e, consequentemente, a da produção em geral, gerando melhorias para toda a população. Os Webb foram os fundadores do modelo de “Estado do Bem-Estar Social.”
            Amartya Sen, por exemplo, argumentava uma nova forma de pensar em bem-estar. Os economistas pensam somente nas equações do PIB e na renda, mas o que mais importa são as opurtunidades. Um carro pode ser valorizado por dar a uma pessoa condições de se locomover. A renda, portanto, serve para criar mais oportunidades  mas, estas só podem existem em um ambiente, no qual exista boa educação, saúde e etc. Uma nova forma de pensar o bem-estar das pessoas deveria levar em conta tais elementos e não somente a renda.
            Para o economista Irving Fisher, as altas e baixas da economia – crescimento e depressões – poderiam ser evitadas. Ao dizer que ao prever a flutuação de preços, um Banco Central poderia até mesmo evitar esses oscilações na economia. A estabilização dos preços e da moeda impediriam essas oscilações. John Maynard Keynes, na mesma linha, defendia que as depressões eram um erro técnico ao invés de natural. Portanto, essas desestabilizações poderiam ser reduzidas. Em uma depressão, os preços declinam, e, portanto, investimentos, também. Um Banco Central deveria expandir o crédito para aumentar os preços até que voltasse compensar a investir. Dessa forma, é possível evitar grandes estragos na economia e para a população.  
            A idéia por trás da viagem de Sylvia Nasar da Inglaterra Vitoriana a Índia dos dias atuais é mostrar que os grandes pensadores da economia não só desenvolveram idéias importantes como utilizaram a economia como um instrumento para tentar melhorar a situação de vida da imensa massa. Todos esses grandes pensadores citados por Nasar têm inúmeras diferenças entre eles, mas o legado é o mesmo: os problemas econômicos não são naturais.

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