A ideia da racionalidade é
central: os indivíduos sempre agem de maneira racional, sem que questões como a
ética e os costumes influenciem em suas ações. É uma visão mecanista que acabou
criando o “homem econômico”, egoísta e
racional. O mercado também ganha ares científicos: é um mecanismo perfeito que
gera o equilíbrio e a prosperidade do coletivo. Ou ainda, a regra defendida por
Adam Smith: ao buscar os interesses egoístas, de maneira racional, o açougueiro sempre geraria o bem-estar coletivo. Tanto os agentes econômicos e o
funcionamento dos mercados perderam o caráter subjetivista e social. Tornaram-se
elementos científicos, como aqueles estudados pela física e pela matemática.
A ação humana pregada por Mises
perdeu espaço para os modelos matemáticos. Os economistas estão confundindo
beleza com verdade, como diria Paul Krugman. Todo esse arcabouço “científico”é
maravilhoso, mas não serve para explicar a economia como ela é de fato. Os
indivíduos podem ser racionais no mundo abstrato, mas no real eles agem muitas
vezes por impulsos. A classe capitalista, por exemplo, age com o único
propósito de acumular riquezas. Nesse empreendimento, nem sempre se utilizam da
razão, muito menos, em vários casos, suas ações egoístas geram bem-estar para a
sociedade.
O indivíduo racional deixa de
existir na figura do capitalista. As decisões econômicas estão concentrados em
suas mãos. Enquanto houver otimismo, ele continuará investindo mais e mais para
acumular riquezas. Porém, qualquer medo, qualquer expectativa ruim do futuro,
ele deixará de investir, o que poderá prejudicar toda sociedade. Nesse quesito
são dois pontos: 1. suas ações egoístas de deixar de investir podem causar
danos à sociedade, e 2.o medo do futuro influência muito mais do que a razão. O
“homem econômico”não existe na prática. Para os modelos, não existe incerteza,
pois é possível prever o futuro utilizando os dados do passado. Esquecem-se que
o futuro é sempre incerto e nunca previsível, portanto mais do que razão,
muitas vezes o medo influencia nas decisões econômicas.
O debate sobre o intervencionismo estatal é um
dos pontos centrais da economia. Para os modelos matemáticos, o Estado não deve
intervir, pois o mercado é perfeito, já que os indivíduos são racionais, suas
ações individuais levam sempre ao bem-estar coletivo. Ou seja, o mercado é uma
força capaz de se auto-regular, pois as forças tendem sempre ao equilíbrio. A
economia se despolitizou nesse sentido.
Mas essa discussão levanta
questões mais relevantes do que modelos propõem: envolve debates sobre moralidade e sobre a essência da
sociedade. Deveria o governo tributar pesadamente e com isso ajudar os mais
pobres? Deveria o Estado regulamentar o sistema financeiro para evitar crises
econômica ou nestas, deveriam haver pacotes para salvar empresas e com isso
impedir que o desemprego se agrave? Essas são questões que os modelos matemáticos
não resolvem.
O papel do Estado na economia
envolve um debate sobre individualismo. O indivíduo deve ser responsável pelos
outros? Ou seja, uma pessoa qualquer que more no Estado de São Paulo deveria
pagar maiores impostos para que o governo financie o seguro-desemprego de um
cidadão que mora em Sergipe, por exemplo? Tanto o sim como o não envolvem a
questão: o indivíduo tem algum dever moral com a sociedade? Novamente, os
modelos matemáticos não podem resolver.
Mesmo aqueles defensores do
mercado irrestrito, como os economistas vinculados à tradição da Escola
Austríaca, afirmam que o mercado é um processo social que decorre no tempo.
Segundo esses economistas, o próprio mercado é imperfeito e por mais que
caminhe para o equilíbrio, não o alcançará (Kirzner), ou mais, nem sequer
caminho para o equilíbrio (Lanchmann). Mas acreditam que mesmo o mercado
imperfeito será mais eficiente que as políticas estatais, porque além de
questões econômicas, o Estado intervencionista tende a expandir o seu poder e
eliminar as liberdades. A falta de incentivos para funcionários públicos e a
corrupção também são criticados pelos austríacos. Portanto, para estes tanto o
mercado e o Estado são elementos sociais não-perfeitos e sujeitos à incertezas,
ao poder, às questões políticas e podem ser influenciados por demandas
populares, como no caso do Estado. Enfim, em questões que os modelos
matemáticos não podem esclarecer nem analisar.
A economia não é uma ciência
matemática e jamais sê-lo-á, pois o “homem econômico”não existe. Muito bonito
na teoria, mas sem qualquer relevância para a prática. A economia precisa
voltar a levar em consideração questões morais e ética se quiser deixar de ser
uma ciência triste e tornar-se mais compreensível e eficiente. Nesses pontos,
modelos matemática não podem explicar nada. É preciso deixar de confundir
beleza com verdade.
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