sábado, 30 de março de 2013

Da glória ao chumbo : A economia mundial no Entreguerras


INTRODUÇÃO: A VITÓRIA DA ORDEM LIBERAL BURGUESA E A INGLATERRA COMO OFICINA DO MUNDO
                Denominado por Eric Hobsbawn de “A era da catástrofe” o período que se inicia em 1914 e chega ao fim com o término da II Guerra Mundial, em 1945 talvez tenha sido um dos períodos mais trágicos da existência humana. Guerras e crises levaram a tragédia humana a níveis assustadores. A economia mundial teve um papel salutar nesse período, pois não apenas durante a catástrofe, mas posteriormente o mundo anterior à I Guerra Mundial veio a ruir. Em sua obra magistral denominado “ Os anos de chumbo” (Editora Unesp\Edições Facamp), o professor Frederico Mazzucchelli traça um panorama das principais economias mundiais nesse período.
                O professor Mazzucchelli inicia sua obra demonstrando como era a ordem anterior à guerra. Sem dúvida, era o mundo da ordem liberal burguesa do século XIX, em que o liberalismo econômico reinava na figura da Inglaterra. Devido à precocidade de sua revolução industrial, ela conseguiu desenvolver sua indústria muito antes dos demais países europeus. “Os homens práticos”, os quais o autor chama atenção, foram aos poucos adquirindo conhecimentos e incorporando-os à produção, devido à simplicidade da tecnologia. A concorrência era aberta a quase todos, já que não eram necessários grandes somas de capital para a indústria. Tanto que nessa fase do capitalismo (originário)os bancos ingleses não eram uma força interna, já que os industriais conseguiam investir na produção apenas com a acumulação interna de lucros.
                A produção da indústria têxtil, a qual revolucionou o modo de produção, era voltada para o exterior, principalmente para suas colônias. A própria dinâmica da indústria têxtil permitiu o desenvolvimento dos setores de bens de capital (Departamento I). Graças ao desenvolvimento desse departamento foi possível desenvolver o ciclo ferroviário, que permitiu uma melhor mobilidade e a redução dos custos, se diferenciou do ciclo têxtil, pois para a construção dessas ferrovias não bastava apenas a acumulação interna de capital feita pelas empresas. Nesse sentido os bancos tiveram um papel fundamental na concessão de crédito.
                Do desenvolvimento da indústria têxtil culminando na ferrovia, a Inglaterra desenvolveu-se de maneira excepcional. Voltada para o exterior, seus bancos e indústrias ajudaram a financiar as industrializações atrasadas, principalmente na Alemanha e Estados Unidos. Seja através do crédito bancário, das exportações de máquinas e de trabalhadores especializados, que conheciam a tecnologia simples necessária para a produção, a Inglaterra tornou-se, dessa maneira, a “Oficina do mundo”, pois ela quem comandava diretamente ou indiretamente a economia global. Mas sem dúvidas tal fato geraria sua própria contradição: com o apoio inglês, a indústria alemã e americana desenvolveram-se de maneira progressiva. A Inglaterra, antes potência soberana, via o surgimento de outras duas potências. Iniciar-se-iam as rivalidades que gerariam o ambiente para a I Guerra Mundial nasceram dessa contradição inglesa, que posteriormente decretariam o fim da “Oficina do mundo”. O mundo mudaria a partir de 1914.

O MUNDO JÁ NÃO É MAIS O MESMO: A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
                A primeira guerra foi uma tragédia, principalmente pelas mortes geradas durante a guerra como pelos traumas posteriores. Na economia e na política, seja durante ou depois da Grande Guerra, o mundo mudou: não era mais possível reconhecê-lo. A ordem liberal burguesa e a hegemonia inglesa deixaram de existir. Os anos de paz do século XIX acabaram nas trincheiras dos sangrentos conflitos. O mundo da glória dava lugar ao mundo do chumbo.
                Para enfrentar a guerra, os países abandonaram o liberalismo desenfreado e adotaram o planejamento estatal. Controles e a alocação de recursos e força de trabalho para os esforços de guerras, através do controle estatal determinou a morte do liberalismo econômico. A economia e a população estavam totalmente voltados para a guerra. Essa foi tônica do funcionamento da chamada economia de guerra.
                Alguns pontos econômicos da guerra se fazem necessários: a queda do abastecimento de alimentos e a inflação. Como demonstra o autor, os países envolvidos na guerra não conseguiam aumentar sua produção de alimentos, fazendo com que as importações fossem centrais para abastecer tais países.  Os mares foram decisivos nesse sentido: os bloqueios feitos pelos aliados comprometiam o abastecimento dos países centrais, como a Alemanha, enquanto os aliados conseguiam alimentos devido a enorme rede global, incluindo os Estados Unidos, países da América e a Austrália, que realizam tais exportações.  A inflação foi causada devido às enormes expansões monetárias, já que muitos países precisavam de recursos financeiros e nem sempre a via da tributação era viável. Os orçamentos se desequilibraram,  por conta dos enormes gastos com a guerra e a queda na tributação, algo impensável nos anos anteriores à guerra.
                Visivelmente após a guerra, o mundo mudara. A Inglaterra deixara de ser a “Oficina do mundo”, ou seja, perdera sua liderança global.  Esta se deslocou, aos poucos, para os Estados Unidos, uma potência isolada. O padrão-ouro, outro componente fundamental  para a ordem liberal burguesa tornara-se inviável, devido à emancipação das massas e pela necessidade da reconstrução pós-guerra, inviabilizando a defesa do câmbio valorizado.
                Após a I Guerra Mundial, a Era da Catástrofe entraria em uma nova fase: os anos 20 e 30. O Tratado de Versailles, o qual impôs duras sanções à Alemanha traria consequências ainda mais trágicas. Os vinte anos entre o fim da I Guerra Mundial e o início da II Guerra foram apenas um ensaio para esta última. A paz estava severamente comprometida.

O DESASTRE FRANCÊS: A FRANÇA NO ENTREGUERRAS
                A França foi um caso, de certa forma, trágico durante o período. Todos os países envolvidos diretamente com a guerra sofreram com a inflação e o desequilíbrio das contas públicas. Após 1921-1922, nos vários países (menos a Alemanha que viria a se estabilizar um pouco depois), a inflação estaria sob controle. Na França, não. A incerteza quanto à taxação de capitais, permitiu uma fuga generalizada de capitais e o refúgio em moeda estrangeira. A inflação decorrente da desvalorização do franco contaminou a economia francesa. Os setores envolvidos com exportação foram os únicos que conseguiram produzir e lucrar. Os outros, declinaram.
                A partir de 1928, a França volta ao padrão-ouro. Para isso, foram necessárias políticas contracionistas de redução dos déficits e da oferta monetária. Mesmo ao estabilizar a inflação e as finanças, a economia não se encontrou em uma espiral de crescimento, mas pelo contrário: o setor de exportações declinaria e a crise econômica de 1929 seria um choque para os franceses, que insistiram até em 1936 (diferente dos demais países) continuar com políticas contracionistas, o que inviabilizou o alívio. Somente a parti da guerra, sua economia voltaria a crescer de maneira sistemática.
                A França era uma nau sem rumo, como bem disse Mazzucchelli: ora o medo da taxação de capitais e, consequentemente, sua fuga; o retorno ao padrão-ouro que deveria trazer a estabilidade; ora os aumentos salariais que dentro do contexto inviabilizaram os investimentos industriais; ora os momentos de greve. A França foi um caso melancólico em meio a tempos melancólicos.

A OBSESSÃO FATAL PELO OURO: A INGLATERRA NO ENTREGUERRAS
                A Inglaterra precisava se reconstruir após a perda da hegemonia global. Toda a política econômica inglesa, como demonstra Mazzucchelli, visavam à volta do padrão-ouro: a nostalgia dos anos pré-guerra era evidente nas decisões econômicas. Mas a tentativa de voltar a ser a “Oficina do mundo” ou de reviver os gloriosos anos do século XIX tornaram-se uma obsessão fatal para a Inglaterra, comprometendo, inclusive, seu crescimento.
                O objetivo da Inglaterra era voltar à paridade entre libra e ouro, e para isso as políticas econômicas inglesas nos anos 20 foram de ampliar a deflação. Redução dos salários, juros elevados, contenção das despesas e aumento do fluxo de capital para a Inglaterra permitiram que as condições para a volta do padrão-ouro à sua paridade de antes da guerra fossem viáveis. Em 1925, a Inglaterra voltaria à paridade entre libra e ouro anterior à guerra, mas não sem graves problemas: as políticas de valorização da libra induziram à deflação, à queda das exportações e da produção industrial, além do aumento do desemprego. Mesmo com o crescimento após 1926, a economia inglesa não conseguiu mais do que um crescimento medíocre nos anos 20.
                Nesse contexto, houve uma mudança significativa na indústria inglesa: as antigas indústrias, como a têxtil, a do carvão, a do ferro e etc. ruíram. As políticas de substituição de importações, baixo dinamismo dos países periféricos, a concorrência internacional, novos produtos e a valorização da libra estagnaram as exportações inglesas. Porém,  esse foi o ponto de mutação: abriu-se espaço para novas e modernas indústrias, como a química, automobilística, a de fibras sintéticas, a de engenharia elétrica. A produção agora estava voltada para o mercado interno, diferentemente dos anos da ordem liberal burguesa, em que a produção era voltada para a exportação. Mazzucchelli lembra bem que essa transformação da indústria inglesa não foi algo consciente, mas foi resultado das políticas deflacionárias e de valorização da libra, as quais permitiram essa mudança industrial.
                O sombrio quadro do começo dos anos 30 de recessão, desemprego e fragilidade das contas externas inglesas forçaram a frequentes aumentos nos juros e a pedidos de empréstimos para França e Estados Unidos. Nesse contexto de crise, já não era possível mais manter o padrão-ouro: era a hora de abandonar por completo as lembranças de um passado que não voltaria mais. A libra se desvalorizou, permitindo que os juros fossem derrubados. A Inglaterra aumentou as tarifas protecionistas (o que nos anos da ordem liberal burguesa era inviável, já que a Inglaterra era defensores do livre mercado entre países.) Essa política de desvalorização da libra permitiu ao governo manobrar a política monetária e fiscal de maneira a diminuir os impactos da crise. Tanto que a Inglaterra não sofreu tanto quanto os outros países e conseguiu se recuperar de maneira rápida. Mesmo assim, como demonstra o professor Mazzucchelli, o crescimento inglês não foi nada excepcional, mas apenas modesto, com o desemprego ainda persistindo. Por mais que as políticas de livre mercado fossem deixadas de lado, a política fiscal inglesa não foi tão expansiva quanto deveria, o que fomentou esse crescimento medíocre e manteve o desemprego.

UM PAÍS HUMILHADO: A ALEMANHA NO ENTREGUERRAS
                A Alemanha saiu devastada da guerra não somente apenas pelas perdas humana e da própria guerra, mas foi acusada de ser responsável por ela e, portanto, deveria pagar reparações aos países aliados. Pior: a economia alemã estava completamente desorganizada e os grupos políticos radicais de esquerda e direita estavam cada vez mais ativos, causando instabilidade social. Para piorar, ainda mais, a França invadira, em 1923, o vale do Ruhr.
                A hiperinflação foi um momento trágico na história da Alemanha. Ao investigar suas causas, professor Mazzucchelli demonstra de maneira brilhante que a moeda é, antes de mais nada, uma convenção social, ou seja, é preciso que as pessoas acreditem que ela tenha algum valor. O pessimismo rondava os alemães, principalmente a partir de 1921-1922, em que se iniciaram o pagamento das reparações, em que ocorreu a partilha da Alta Silésia e a invasão do Ruhr pela França fizeram com que as pessoas ficassem incertas quanto ao futuro da Alemanha e nesse sentido começou a ter uma corrida por dólares, o que gerou, por consequência a desvalorização do marco alemão. Além do mais, a política fiscal e monetária expansionista ajudaram a desvalorizar o marco cada vez mais. Nesse sentido, a desconfiança quanto ao futuro “encontrou no desequilíbrio fiscal e na permissividade da política monetária os veículos que permitiram que a fuga da moeda local se materializasse sem nenhuma restrição”, escreveu de maneira brilhante o professor Mazzucchelli.
                A estabilização da moeda alemã se deu através da emissão de uma nova moeda (rentenmark), que deveria trazer de volta à confiança no futuro da Alemanha. As autoridades monetárias estavam dispostas a manter uma relação estável entre a nova moeda o dólar e o ouro.  Ao contrair o crédito para manter a paridade estável, o governo alemão pôde aumentar suas receitas e teve de controlar suas finanças. A economia alemã estava se estabilizando aos poucos.
                O Plano Dawes foi decisivo para estabilizar a economia alemã: esse plano permitiu o pagamento escalonado das reparações, Alemanha deveria pagar pelas reparações a partir de superávits, e, portanto, não poderia mais recorrer às expansões monetárias, alimentando o fantasma da inflação, para pagar as dívidas. As políticas econômicas do plano eram visivelmente deflacionistas, mas esse era o sacrifício a ser feito para manter a Alemanha no caminho certo.
                Esse plano Dawes acabou por despertar o interesse das finanças internacionais para a Alemanha. Assim, ela conseguiu pagar as reparações através dos empréstimos feitos pelos Estados Unidos, principalmente. Os empréstimos permitiram que, após 1926, a economia alemã crescesse, assim como os gastos públicos, fundamentais para revitalizar a economia. Porém, logo esse crescimento se desmancharia: o Plano Young que reformulou o Plano Dawes, a queda do fluxo de empréstimos para a Alemanha , políticas contracionistas e o início da crise de 29 fizeram com que a economia alemã voltasse ao caos.
                No começo dos anos 30, as políticas de Brüning foram de manter o equilíbrio fiscal, manter o padrão-ouro, cortes de gastos e aumento de impostos, redução de salários. Tal política deflacionária só fez com que a crise alemã se agravasse, seja através da queda da produção ou do aumento do desemprego. O fato é que tal postura de manter as regras liberais tornar-se-iam um prato cheio para que os radicais ganhassem voz na sociedade e na política. Não à toa, Hitler, em 1933, viria a assumir o poder.

NASCE UM GIGANTE: OS ESTADOS UNIDOS ANTES E NO ENTREGUERRAS
                Os Estados Unidos ao final do século XIX começaram se tornar uma potência mundial e começariam em pouco tempo a superar a Inglaterra. A base de desenvolvimento foi muito semelhante a de sua ex-metrópole: a construção da larga malha ferroviária foi o centro do desenvolvimento, que ajudou a desenvolver outras indústrias, como a de aço, carvão. A classe financeira teve um papel fundamental no que se refere a empréstimos para essa empreitada. Tanto que, muitos banqueiros tornaram-se industriais, devido essa estreita linha entre a indústria e  o poder financeiro. A indústria americana pôde se desenvolver de maneira muito superior aos demais países, inclusive incrementando novas tecnologias à produção industrial. Diferentemente da Inglaterra, essa produção era voltada para o mercado interno e não para o externo. Ainda nesse período, o surgimento dos grandes monopólios foi uma realidade. A economia em larga escala fez com que determinados setores ficassem concentrados em poucas empresas. Com todos esses elementos, os Estados Unidos apareciam para o mundo.
                Os Estados Unidos tentaram evitar ao máximo entrar na guerra, devido à sua política isolacionista. Mas quando entrou, sua economia liberal transformou-se em uma economia de guerra: o planejamento central alocava os recursos e os esforços para a indústria bélica. Como no resto dos países envolvidos com o confronto, o liberalismo cedeu ao planejamento. Porém, ao término da guerra, os Estados Unidos, por não terem sofrido danos materiais, tornaram-se credores e exportadores de recursos para os países Europeus. Os americanos foram os “vencedores” reais da Grande Guerra.
                Os anos 20 foram de extrema euforia para os americanos. O crescimento econômico baseado no crédito e na teia de investimentos entre setores geraram um crescimento espetacular. As indústrias automobilísticas, de petróleo, setores de construções e as atividades comerciais, aliados ao crédito fácil permitiram  que os consumidores tivessem acesso a inúmeros bens produzidos em massa, como carros, geladeiras, rádios. As empresas investiam e lucravam cada vez mais. A prosperidade parecia infinita. O liberalismo econômico  havia permitido toda essa euforia.
                Porém, foi a própria dinâmica positiva da economia que gerou sua queda: a produção industrial e as atividades comerciais haviam chegado a um limite, em que os próprios consumidores estavam satisfeitos e as empresas estavam com altos estoques. As perspectivas econômicas passaram da euforia para o pessimismo e a incerteza. As empresas pararam de produzir, simplesmente, e os consumidores de gastar. Mas a quebra da Bolsa em 1929 foi o momento fatal para a economia americana.
                Na época da euforia, o crédito fácil e outra fontes não-bancárias fizeram com que muitos investissem na bolsa de valores. Quando a bolsa quebrou, famílias e empresas perderam muito dinheiro  gerando uma crise de liquidez, em que os bancos contraíram o crédito, as empresas reduziram os estoques e as famílias pagavam suas dívidas e não gastavam. O circuito de gasto estagnou e, portanto, a crise estava instalada.
                Para conter a crise, as primeiras políticas foram de reduzir os juros, porém quando o pior supostamente havia passado, segundo o pensamento de Hoover, a contenção de gastos ainda continuava, os bancos estavam prestes a sofrer quebras generalizadas, devido à falta de regulamentação e a agricultura sofria. O Estado não promoveu os gastos necessários para aliviar a crise. O pensamento liberal, temerário à intervenção do Estado, ainda estava muito presente nos ideais de Hoover e portanto, o Estado não agiu de maneira combativa como deveria.
                Do mesmo jeito que os Estados Unidos subiram no pré-guerra  e continuaram subindo nos anos 20, a década de 30 derrubou a próspera economia americana. O liberalismo excessivo, muito presente  na mentalidade americana, levou à crise e não pôde contê-la. Assim como na Alemanha, tal fato geraria uma mudança de rumo. Um homem faria isso: Frankilin Delano Roosvelt.

O CAPITALISMO MUDA SUA FACE: O CASO AMERICANO E O ALEMÃO
                Quando Roosvelt subiu ao poder suas ações foram de reformar o capitalismo. Para salvar os Estados Unidos da crise, o Estado passaria a ser ativo na economia. O capitalismo livre daria lugar ao capitalismo reformado, em que o Estado daria certas diretrizes ao capital privado. Nascia, com Roosvelt, o Estado de bem-estar social, fundamental para consolidar a ordem nos anos pós-II Guerra.
Os Estados Unidos abandonaram o padrão-ouro e permitiram a desvalorização do dólar, a qual fez com que os preços subissem e as expectativas de investimentos voltassem. Mesmo não sendo tão eficiente tal política, pois os bancos não expandiram o crédito, ela foi eficiente em eliminar o fantasma da deflação. No outro sentido das finanças, o Estado teve uma participação fundamental na regulamentação bancária. Ao salvar os bancos e impor regulamentações às suas atividades, as quebras bancárias se reduziram, em contraste com o período anterior, em que ao deixar os bancos livres e sem ajudá-los, as quebras bancárias eram altas e assustadores e voltaram a ser instituições seguras para as pessoas depositarem seu dinheiro.
Na contramão do liberalismo, O New Deal de Roosvelt ajudou a agricultura de maneira substantiva. As políticas de elevação dos preços agrícolas, seja através da redução das áreas de cultivo, do controle da produção (restrição dela), ações de conservação do solo, melhor aproveitamento das terras e a difusão da energia elétrica, empréstimos para agricultores  permitiram que a agricultura voltasse a produzir.
O New Deal projetava maiores gastos do governo através de obras para empregar os desempregados e os mais jovens. O New Deal foi além em ajudar diretamente aos mais necessitados. O programa de assistência direta ou indireta ajudou muitas pessoas a saírem de situações desesperadoras para viver com um pouco mais de conforto. Deixada às forças de mercado, talvez grande parte da população americana não teria sobrevivido a esses árduos anos.
Apesar da mentalidade dos orçamentos equilibrados, o que impediu Roosvelt de fazer mais do que fez, o New Deal foi um passo significativo de fazer com que o Estado intervisse na economia para salvá-la de sua crise. Foi através dessas intervenções no âmbito monetário, na regulamentação do sistema financeiro, nas intervenções na agricultura e na indústria, com o intuito de fazer com a produção voltasse a crescer, gastos com obras públicos, a fim de diminuir o desemprego, programas de assistência aos pobres e desempregados permitiram que os Estados Unidos fossem aos poucos saindo da crise e voltassem a ser uma potência.
                 Sob o comando nazista, Alemanha implementou reformas no capitalismo bem radicais. Os bancos e as empresas deveriam ser submetidas ao poder central de Hitler. O caso mais emblemático é dos bancos, os quais proveram liquidez, através das poupanças privadas, para que o governo nazista gastasse em projetos de estimular a economia.
                De 1933 a 1936, os programas emergenciais de Hitler visavam dois setores em especial: o da construção de residências e do setor automobilístico. Nesse último em particular se viu grande avanços, seja através de investimentos na produção de carros como na construção de estradas, e além do mais, esse era um setor com muita ligação com outros setores. Aos poucos, o desemprego e a produção industrial começavam a dar sinais vigorosos. A partir de 1936, com o II Plano Quadrienal, o qual visava desenvolver a economia de maneira autônoma, permitiu a produção de borracha, aço, alumínio e fibras sintéticas. O desemprego continuava a declinar e com esse aumento na produção de matérias-primas, os nazistas colocaram em prática o programa de rearmamento. A partir desse momento, os recursos e os gastos públicos seriam destinados à produção de armamentos, mesmo que isso causasse redução no consumo. Aliás, como demonstra Mazzucchelli, os programas de desenvolvimento da Alemanha sempre passaram por um maior desenvolvimento dos bens de capital e não nos de consumo. Mesmo assim, ainda até o início da guerra, o consumo continuaria a crescer.
                Mesmo de maneira mais radical, a economia nazista tentou reformar o capitalismo, de maneira que as forças de mercado estariam submetidas ao poder do Estado. A elevação do gasto público nos dois momentos, a ajuda à agricultura, semelhante a do New Deal, permitiram a Alemanha se desenvolver economicamente, reduzir o desemprego. Assim ela teve forças para enfrentar as humilhações do passado. A II Guerra Mundial estaria pronta para se iniciar.

A ECONOMIA DE GUERRA: A VOLTA DA TRAGÉDIA
                Para simplificar, a II Guerra foi uma revanche da primeira. Era um momento de revisar a história e de impor uma superioridade racial (caso da Alemanha). Para isso, as economias mundiais voltar-se-iam novamente para o planejamento central e a alocação de recursos e força de trabalho para a guerra. Em todos os países isso aconteceu, com exceção dos Estados Unidos, que por possuírem vasta matéria-prima conseguiram aumentar a produção bélica sem prejudicar o consumo.
                No primeiro momento da guerra, as forças do Eixo conseguiram vitórias sucessivas, mesmo que a Alemanha não estivesse completamente preparada para a guerra. A partir do momento em que os Estados Unidos entraram na guerra, a União Soviética conseguiu resistir de maneira heroica à invasão nazista e a produção bélica dos países aliados aumentou em quantidade e qualidade, a queda das forças do eixo foram inevitáveis. A superioridade econômica e bélica dos aliados e erros estratégicos fizeram com que as forças do Eixo fossem derrotas. A paz estaria de volta.
                Porém, os acordos de paz visavam muito mais a ajuda do que custos. Os Estados Unidos foram decisivos nesse contexto de empréstimos para a reconstrução da Europa, inclusive da Alemanha, e do Japão. Diferentemente do pós-I Guerra, os Estados Unidos assumiram o papel de liderança mundial, ou seja, “a nova oficina do mundo”.

  CONCLUSÃO: OS ANOS QUE MUDARAM O MUNDO
                Na brilhante exposição do professor Mazzucchelli , é possível ver como os anos de chumbo mudaram o mundo. Ao olhar o mundo em 1945 e compará-lo com 1913, por exemplo, são mundos completamente diferentes. A ordem liberal burguesa se rompeu, a Inglaterra perdera sua supremacia. As guerras traumatizam gerações e o Estado, tão temido pelos liberais, surgira como uma força para evitar as crises econômicas e a pobreza. Era a face do Estado de bem-estar social, instituição impensável em meados do século XIX. Um das duas potências globais era um Estado comunista (União Soviética).
                Os anos chumbos foram, no pós-I Guerra, uma tentativa de voltar a passado que já estava remoto naquelas circunstâncias: a ordem liberal burguesa, com a supremacia dos mercados e o padrão-ouro já não acompanhavam mais as necessidades de investimentos públicos e da emancipação das massas no cenário político. Foi somente a partir do momento em que tal obsessão foi abandonada a economia pôde se recuperar da crise e reduzir o desemprego, ver os casos da Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra (bem menos, é verdade.) Era de fato um novo mundo, que viria a influenciar tanto seus anos imediatamente posteriores como a longo prazo, ainda de certa forma influencia até hoje, como, por exemplo, a supremacia americana só é possível entender nesse contexto de vitória nas duas guerra sem ter sofrido perdas materiais e ter financiado as reconstruções europeias e japonesas. Era o fim da ideologia do capitalismo livre e da supremacia dos mercados.

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