Apesar de atualmente estar envolvido com o
pensamento de outros economistas (leia-se, economistas críticos do capitalismo
“selvagem”), o estudo da chamada Escola Austríaca ainda me marca profundamente.
Não só porque comecei a aprender economia lendo Mises, Hayek e Rothbard (e
obras como “Economia e Liberdade”, do professor Ubiratan Iorio), mas porque ela
torna o debate econômico mais sofisticado. Estudar seus economistas e ideias é
tentar compreender o mundo sob a óptica do liberalismo econômico de uma maneira
mais eficaz do que as outras escolas liberais, que se utilizam de modelos
matemáticos para explicar que o Estado não deve intervir na economia. A própria
metodologia é mostrar que ação humana importa muito mais do que fórmulas e
gráficos.
Com
a crise de 2008 muitos pensadores e economistas retornaram a Marx e Keynes. Mas
por incrível que pareça, o mundo viu ressurgir o pensamento austríaco,
esquecido desde que o keynesianismo triunfou nos chamados “anos dourados” do
século XX. Mesmo após a reviravolta liberal dos anos 70, os que triunfaram
foram economista como Friedman, que apesar de um grande liberal, é muito
criticado pela Escola Austríaca. Esta continuou a perder espaço, por mais que
um de seus mais famosos economistas, F.A.Hayek tenha vencido o Prêmio Nobel em
1974, mesmo assim, seu grande mentor, por exemplo, Ludwig von Mises não era nem
sequer citado.
É óbvio que
atualmente não há uma reviravolta “austríaca”, mas uma redescoberta lenta de
sua tradição. A internet ajudou aos jovens estudantes de economia e outras
ciências a encontrar um vasto material, tais como artigos e livros sobre o
pensamento austríaco. Graças à criação do Mises Institute nos Estados Unidos,
hoje o que era distante e o que estava supostamente perdido agora está
acessível a um clique.
O
Brasil é um claro exemplo da redescoberta austríaca. Na década de 80, vários
livros “austríacos”foram traduzidos pelo Instituto Liberal. Grandes liberais no
Brasil como Donald Stewart Jr. (o qual traduziu a obra-prima de Mises: “Ação
Humana”), Og Leme e Roberto Campos foram decisivos para trazer à tona o
pensamento liberal e da Escola Austríaca. Mas mesmo assim, a influência
necessária para trazer o liberalismo austríaco ao debate não veio.
A virada começou
e continua após o ano de 2008 com a criação do Instituto Mises Brasil fundador
por Hélio Beltrão (filho do ministro Hélio Beltrão e irmão da jornalista Maria
Beltrão), Sidney Silvestre, Erick Vasconcelos, os eternos irmãos Chiocca e ao
grande economista(e a quem eu frequentemente tiro dúvidas) Leandro Roque. Conta
ainda com professores de primeira categoria, como Ubiratan Iorio, Fabio
Barbieri e o alemão Anthony Muller. Dentre outros, como Bruno Garschagen e
Fernando Ulrich.
Hoje,
graças à iniciativa do Mises Brasil, há inúmeros artigos e livros dos grandes
austríacos, sejam os clássicos como Mises, Hayek e Rothbard, como dos mais
atuais, dentre eles Hans Hermann Hoppe, Lew Rockwell, Thomas Woods, Walter
Block, Jesus Huerta de Soto. Além de produções nacionais.
Eu,
no auge dos meus quinze anos (2009), fui ao primeiro lançamento de livro feito
pelo Mises Brasil. “Economia do Indivíduo: O legado da Escola Austríaca”,
escrito por Rodrigo Constantino, que mesmo não sendo membro do IMB, ainda é um
ávido defensor do pensamento liberal. Naquele dia em São Paulo dava para contar
nos dedos os poucos presentes, mas que sem dúvida foi uma noite produtiva com
inúmeros debates e com um apagão de luzes, não de idéias.
Mas
meses depois, já em 2010, o Instituto Mises Brasil realizou o primeiro
congresso de Escola Austríaca no Brasil contando com várias mentes brilhantes
da tradição liberal. Apesar da grandeza intelectual do evento, ainda o número
de participantes não chegara a duzentos. (Mesmo assim já dava para lotar alguns
ônibus). No ano seguinte, com a vinda de Hans Hermann Hoppe, o evento já trouxe
mais gente. Porém, realizado em São Paulo, o evento de 2012 foi um enorme
sucesso.
Inúmeros
jovens vindos das universidades, dos mais variados cursos ouviam atentamente
às palestras. Muitos saíram com as mãos cheias de livros (eu nem preciso dizer
que eu não resistia e a cada intervalo comprava um livro). No salão da Fecomercio
era uma efervescência de idéias sobre liberalismo, crises e o intervencionismo
do Estado na economia. Nesse momento foi possível perceber que a Escola
Austríaca fora redescoberta. As mesmas ideias que possivelmente eram discutidas
nos cafés vienenses estavam sendo debatidas a cada intervalo. E agora com a
internet nos celulares, tablets, quem sabe nos cafés brasileiros alguns
estudantes não estejam discutindo as obras de Mises, Hayek, Menger e outros?
Hoje visibilidade do Mises Brasil é enorme, tanto
no facebook como nas visualizações. Portanto, a Escola Austríaca foi descoberta
no Brasil e cada vez mais ganha espaço no debate público. O que em 2009 era um
encontro de poucas pessoas, hoje está ganhando enormes dimensões, chegando
inclusive, gradualmente, ao debate público. Para os”austríacos”brasileiro ainda
há muito que fazer, mas a direção é essa mesma.
Independentemente
de concordar ou não, o fato é que a Escola Austríaca deve ser respeitada e suas
ideias devem ser trazidas para sofisticar e melhorar o debates sobre
importantes questões econômicas. Um debate mais rico só trará benefícios para a
economia mundial e brasileira. Redescobrir a Escola Austríaca é ajudar, nesse
sentido, na construção de um mundo com menos problemas econômicos.
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