quarta-feira, 13 de março de 2013

Um relato sobre a descoberta do pensamento "austríaco"no Brasil


             Apesar de atualmente estar envolvido com o pensamento de outros economistas (leia-se, economistas críticos do capitalismo “selvagem”), o estudo da chamada Escola Austríaca ainda me marca profundamente. Não só porque comecei a aprender economia lendo Mises, Hayek e Rothbard (e obras como “Economia e Liberdade”, do professor Ubiratan Iorio), mas porque ela torna o debate econômico mais sofisticado. Estudar seus economistas e ideias é tentar compreender o mundo sob a óptica do liberalismo econômico de uma maneira mais eficaz do que as outras escolas liberais, que se utilizam de modelos matemáticos para explicar que o Estado não deve intervir na economia. A própria metodologia é mostrar que ação humana importa muito mais do que fórmulas e gráficos.
            Com a crise de 2008 muitos pensadores e economistas retornaram a Marx e Keynes. Mas por incrível que pareça, o mundo viu ressurgir o pensamento austríaco, esquecido desde que o keynesianismo triunfou nos chamados “anos dourados” do século XX. Mesmo após a reviravolta liberal dos anos 70, os que triunfaram foram economista como Friedman, que apesar de um grande liberal, é muito criticado pela Escola Austríaca. Esta continuou a perder espaço, por mais que um de seus mais famosos economistas, F.A.Hayek tenha vencido o Prêmio Nobel em 1974, mesmo assim, seu grande mentor, por exemplo, Ludwig von Mises não era nem sequer citado.
É óbvio que atualmente não há uma reviravolta “austríaca”, mas uma redescoberta lenta de sua tradição. A internet ajudou aos jovens estudantes de economia e outras ciências a encontrar um vasto material, tais como artigos e livros sobre o pensamento austríaco. Graças à criação do Mises Institute nos Estados Unidos, hoje o que era distante e o que estava supostamente perdido agora está acessível a um clique.
            O Brasil é um claro exemplo da redescoberta austríaca. Na década de 80, vários livros “austríacos”foram traduzidos pelo Instituto Liberal. Grandes liberais no Brasil como Donald Stewart Jr. (o qual traduziu a obra-prima de Mises: “Ação Humana”), Og Leme e Roberto Campos foram decisivos para trazer à tona o pensamento liberal e da Escola Austríaca. Mas mesmo assim, a influência necessária para trazer o liberalismo austríaco ao debate não veio.
A virada começou e continua após o ano de 2008 com a criação do Instituto Mises Brasil fundador por Hélio Beltrão (filho do ministro Hélio Beltrão e irmão da jornalista Maria Beltrão), Sidney Silvestre, Erick Vasconcelos, os eternos irmãos Chiocca e ao grande economista(e a quem eu frequentemente tiro dúvidas) Leandro Roque. Conta ainda com professores de primeira categoria, como Ubiratan Iorio, Fabio Barbieri e o alemão Anthony Muller. Dentre outros, como Bruno Garschagen e Fernando Ulrich.
            Hoje, graças à iniciativa do Mises Brasil, há inúmeros artigos e livros dos grandes austríacos, sejam os clássicos como Mises, Hayek e Rothbard, como dos mais atuais, dentre eles Hans Hermann Hoppe, Lew Rockwell, Thomas Woods, Walter Block, Jesus Huerta de Soto. Além de produções nacionais.
            Eu, no auge dos meus quinze anos (2009), fui ao primeiro lançamento de livro feito pelo Mises Brasil. “Economia do Indivíduo: O legado da Escola Austríaca”, escrito por Rodrigo Constantino, que mesmo não sendo membro do IMB, ainda é um ávido defensor do pensamento liberal. Naquele dia em São Paulo dava para contar nos dedos os poucos presentes, mas que sem dúvida foi uma noite produtiva com inúmeros debates e com um apagão de luzes, não de idéias.
            Mas meses depois, já em 2010, o Instituto Mises Brasil realizou o primeiro congresso de Escola Austríaca no Brasil contando com várias mentes brilhantes da tradição liberal. Apesar da grandeza intelectual do evento, ainda o número de participantes não chegara a duzentos. (Mesmo assim já dava para lotar alguns ônibus). No ano seguinte, com a vinda de Hans Hermann Hoppe, o evento já trouxe mais gente. Porém, realizado em São Paulo, o evento de 2012 foi um enorme sucesso.
            Inúmeros jovens vindos das universidades, dos mais variados cursos ouviam atentamente às palestras. Muitos saíram com as mãos cheias de livros (eu nem preciso dizer que eu não resistia e a cada intervalo comprava um livro). No salão da Fecomercio era uma efervescência de idéias sobre liberalismo, crises e o intervencionismo do Estado na economia. Nesse momento foi possível perceber que a Escola Austríaca fora redescoberta. As mesmas ideias que possivelmente eram discutidas nos cafés vienenses estavam sendo debatidas a cada intervalo. E agora com a internet nos celulares, tablets, quem sabe nos cafés brasileiros alguns estudantes não estejam discutindo as obras de Mises, Hayek, Menger e outros?
Hoje  visibilidade do Mises Brasil é enorme, tanto no facebook como nas visualizações. Portanto, a Escola Austríaca foi descoberta no Brasil e cada vez mais ganha espaço no debate público. O que em 2009 era um encontro de poucas pessoas, hoje está ganhando enormes dimensões, chegando inclusive, gradualmente, ao debate público. Para os”austríacos”brasileiro ainda há muito que fazer, mas a direção é essa mesma.
            Independentemente de concordar ou não, o fato é que a Escola Austríaca deve ser respeitada e suas ideias devem ser trazidas para sofisticar e melhorar o debates sobre importantes questões econômicas. Um debate mais rico só trará benefícios para a economia mundial e brasileira. Redescobrir a Escola Austríaca é ajudar, nesse sentido, na construção de um mundo com menos problemas econômicos. 
  

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